A Previdência e o Comando Maluco, por Mateus Carvalho

A nomeação do novo ministro da Previdência Social tem aquele gosto amargo de déjà-vu institucional. Ele, que era o “02”, assume a pasta em meio ao maior escândalo recente da área: um rombo potencial de mais de R$ 6 bilhões no INSS, revelado por uma operação conjunta da Polícia Federal e da CGU. Troca-se o ministro, mas o script parece o mesmo e a plateia, cansada, já sabe como termina.

A situação lembra muito aquele velho esquete do “Comando maluco”, em que o Cabo Batatinha estava sempre por perto, mas nunca sabia de nada. Agora, o “02” vira ministro, como se apenas tivesse trocado de lugar no banco da frente do jipe, sem jamais ter saído da missão. É como se, diante do incêndio, a resposta fosse tirar o motorista e entregar a chave ao copiloto que estava dormindo o tempo todo.

E, convenhamos, a analogia com o “Cabo Bananinha” outro personagem do humor pastelão que falava muito, mas comandava pouco cai como uma luva. O atual ministro foi convidado ao Senado para prestar esclarecimentos sobre um esquema que sangrou os aposentados brasileiros ao longo de cinco anos. E o discurso já se desenha: surpresa, indignação e promessas de apuração. A clássica coreografia do “não vi, não sei, mas estou aqui pra ajudar”.

Enquanto isso, Ciro Gomes resmunga nas redes sociais contra a substituição, deixando claro que a troca foi mais política do que técnica. Tudo dentro do mesmo partido, onde a briga parece menos sobre moralidade e mais sobre espaço.

O fato é que a Previdência, uma das áreas mais delicadas do país, segue sob o comando dos mesmos, que já estavam no centro do sistema. A mudança de nomes soa mais como rearranjo de peças num tabuleiro viciado do que como resposta firme a uma crise grave.

A troca do 01 pelo 02, dentro do mesmo “comando maluco”, pode até render manchetes de renovação. Mas, no fim das contas, o contribuinte continua sendo o verdadeiro palhaço da história.

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